Em entrevista, Carlos Villagrán reafirma que quer se reconciliar com Roberto Gómez Bolaños


O menino vestido de marinheiro e de bochechas grandes se despede dos palcos. Assim declarou Carlos Villagrán, o ator que durante 42 anos deu vida a Kiko (denominado Quico, no começo); um personagem que, diferente dele, nunca cresceu. A partir de 26 de julho, o artista diz adeus ao seu personagem no espetáculo do Golden Circus International, em Lima, Peru.


Você anunciou sua despedida do Kiko há dois anos, mas voltou. É difícil desprender-se do personagem?
Acostumei-me ao Kiko, é certo. Porém é o pedido de muita gente que não me permitiu deixá-lo. Estive há pouco no Brasil e me senti amado. Inclusive me chamam de Will Smith porque já sou lenda.

Teme sentir muita saudade?
Claro que sim, porém já não posso voltar. Agora tenho a curiosidade de ser Carlos Villagrán, de sair para passear, de desfrutar sem ter que trabalhar.

Estará muito tempo em Lima?
Um mês, mais ou menos. Imagine o quanto vou desfrutar da comida! Além disso, me disseram que a prefeita de Lima vai me dar as chaves da cidade e isso me faz muito feliz.

Como é que, pese sua saída de Chaves, segue interpretando este papel?
A mim me botaram. Quico começou a fazer mais sucesso que o Chaves, ovacionavam-no em triplo e isso criou invejas no elenco, por isso saí. Porém o personagem é meu, eu o criei e não Roberto Gómez Bolaños, como ele faz crer.

Porém o êxito de Quico também era o êxito da série...
O que acontece é que Roberto criou ao Chaves como um menino sem mãe, sem pai, nem cachorro. Seu mote era que o público o protegesse, porém acabaram acolhendo mais ao menino mimado e orgulhoso que era meu personagem. Era algo que ele (Roberto) não esperava.

Por isso levou seu personagem ao exterior...
A verdade é que Emilio Azcárraga, presidente da Televisa naquela época, vetou meu personagem no México por 20 anos. Primeiro tive que mudar o nome de Quico por Kiko, porque Roberto registrou os personagens como seus. Daí, levei o Kiko ao exterior. Vivi 11 anos na Argentina e três no Chile e Brasil.

O que você sente pelo Chaves?
É o melhor programa já feito. Chegamos em 17 países ao primeiro lugar ao mesmo tempo; é um recorde que nem os norte-americanos bateram. É triste que os programas mexicanos de agora recorrem à piada fácil e ao duplo sentido. Nós nunca necessitamos disso. Fizemos piadas bem feitas. 

Qual é a marca mais importante da série?
O feito de ser um grupo humano. Eram crianças um pouco caricatas, porém muito reais. O Chapolin Colorado, por exemplo, voa, fica pequeno, é difícil identificar-se com ele. 

Crê que é injusto tanto reconhecimento a Roberto?
Chaves pertence a ele, porém os personagens foram feitos por todos nós. Em meu roteiro nunca li que Quico tinha as bochechas grandes, que punha os olhos como ovo frito ou que caminhava dobrado. Tudo isso eu fiz. E veja, Roberto teve duas homenagens e nós [os demais do elenco], nenhuma. É injusto.

Não é melhor esquecer de tudo?
É o que desejo. Há pouco me reencontrei com a Chiquinha e temos jurado não perder contato. Quero reconciliar-me com Roberto. Voltar a falar com ele seria uma alegria em meu coração. Eu o chamei várias vezes, porém nunca responde. O público sofre ao nos ver brigados.

Dentro do elenco, seu grande amigo foi Ramón Valdés...
Com ele fiz um programa na Venezuela e no México com "Ah, qué Kiko!". Porém logo depois adoeceu. Um dia no hospital, ao me ver chorar, disse: "Não chore, bochechudo. E mais, te espero lá". Eu lhe perguntei: "No céu?". Ele respondeu: "Não te faça de tonto, lá embaixo te espero".

O capítulo favorito As recordações de "Férias em Acapulco". Este episódio, gravado em 1978, foi dividido em três partes é um dos últimos em que aparece Carlos Villagrán [Nota: foi gravado em 1977 e há, portanto, muitos mais com ele]. Na trama, os integrantes da vila viajam para Acapulco graças a um prêmio que Seu Madruga ganha. O êxito deste episódio foi tão grande que, comenta Villagrán, o hotel em que filmaram se converteu em um lugar de culto para os fãs do programa. "Esse foi um momento de ouro na vida de todos e de Chaves. Nunca fomos tão humanos como então", afirma.

Entrevista e texto por: Betty Soto Fernández/El Comercio (Peru), traduzido por Antonio Felipe

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