VIRGULINO FERREIRA UMA HISTÓRIA PRA SE LER. SEGUNDA PARTE.



FELIPE GUERRA INFO. A história do cangaço no município de Felipe Guerra é muito importante saber o que se passou nesta terra, nos tempos de Virgulino Ferreira o conhecido Lampião. Uma Historia contada pelos filhos e netos das testemunhas do tempo em que se esconder era preciso. Escrito por Rostand Medeiros.

FUGA DA FAZENDA

Segundo o pesquisador Sérgio Augusto de Souza Dantas, autor do livro Lampião e o Rio Grande do Norte - A História da Grande Jornada, através de informações coletadas junto a José Pinto Barra, morador do Sítio Brejo, foi o agricultor Sebastião Ferreira, conhecido como "Bicho Tiota", que na noite anterior, 11 de junho de 1927, trouxe aos moradores da

Fazenda Mato Verde a notícia da aproximação do bando. Passados oitenta e um anos, Dona Leonila recordou aos espeleólogos que ela e suas irmãs debulhavam vargens de feijão, quando chegou o lavrador com a notícia, mas confessou que, na sua ingenuidade infantil, não acreditou na história de "Bicho Tiota". Lembrou, perfeitamente, que o agricultor afirmou que o bando viria pela ladeira do Sítio Riacho Preto, a pouca distância da fazenda. Diante desses fatos, sua mãe partiu para juntar tudo que pudessem carregar e se esconderem, mas, devido à chegada da noite, decidiram dormir na fazenda. Tomaram o cuidado de deixarem as portas abertas para uma rápida fuga, sempre com alguém assumindo a posição de vigilante, para alarmar ante a aproximação de estranhos.

Pela madrugada, unidas a outros familiares, Dona Teonila Nogueira e suas filhas partiram em busca de abrigo e apoio dos parentes que habitavam na área da Fazenda Passagem Funda, os quase quatro quilômetros de sua propriedade. Segundo Dona Leonila, ao chegarem ao local, mesmo diante de toda aflição, sua mãe levou todos para orar e pedir proteção na Capela de São Pedro. Inaugurada em 29 de junho de 1903, esse templo católico foi construído pela família Barra e se mantém, até hoje, em perfeito estado de conservação, como uma lembrança daqueles tempos turbulentos.

ABRIGO NA GRUTA

Na Fazenda Passagem Funda foi indicado, como esconderijo à família, um abrigo nos contrafortes do paredão calcário que margeia o principal rio da região, o Apodi. Atualmente, esse local é conhecido como "Grota da Taipa de Zé Felix". A origem desse nome, segundo a tradição oral dos moradores locais, deve-se ao fato de ter habitado, nas proximidades do paredão, um velho senhor, o qual seria um ex-escravo. Trazendo, portanto, os pertences que puderam carregar, a família foi tratando de descer a parede do vale através de uma pequena trilha, até hoje aberta e bem conservada, buscando acomodações na exigüidade do espaço da grota. Somados à família de Dona Teonila Nogueira, foram os parentes Adauto Câmara, Maria Eulália Câmara e cinco filhos. A senhora Maria Eulália havia dado a luz há poucos dias, mas, mesmo debilitada, o medo era tamanho que em nenhum momento ela pensou em deixar. de utilizar a gruta como abrigo.

Marcas da fuga: O antigo casarão da Passagem Funda, com mais de duzentos anos, onde Dona Teonila bateu pedindo ajuda na noite de 11 de junho de 1927.


Assim, em meio ao manto da noite, todos os parentes foram se acomodando da melhor forma possível, imbuídos em um temor terrível, aterrorizados pela idéia de que, a qualquer momento, algum bandido surgisse no local. Durante alguns dias, todos faziam o possível para evitar que a fogueira, acesa para cozinhar, fosse alta, ou exalasse muita fumaça, sendo, assim, percebida pelos cangaceiros. Dona Leonila recorda que, apesar das dificuldades passadas, os dias vividos na "Grota da Taipa de Zé Felix" não deixaram de ter seu lado de aventura e novidade para uma menina de dez anos. Quem atualmente visita o local, encontra-o preservado, como era naqueles estranhos dias de junho de 1927. O panorama da

parte mais alta do paredão é belíssimo, marcado pelos meandros largos e sinuosos do Apodi. Mais à frente, avista-se o antigo pontilhão, o qual liga as duas margens do rio. O acesso à cavidade é difícil, devido ao declive, devendo ser feito com cuidado, sendo a

Área bem provida de árvores, que margeiam o rio. Apesar de o local estar localizado a uma distância média de vinte metros das águas do Apodi, à meia altura do paredão, chama atenção três frondosas e antigas oiticicas (Licania rigida).


Que camuflam totalmente a cavidade, compreendendo-se o porquê da utilização dessa área como esconderijo. Quem está à distância, praticamente ignora que naquele ponto há um abrigo com condições mínimas para seres humanos se protegerem dos elementos naturais, na forma qual se valeram àquelas pessoas. Sobre a cavidade, tecnicamente, ressalta-se que sua formação está intimamente relacionada aos meandros do Rio Apodi. Sua gênese está associada ao desprendimento de um grande bloco calcário, que gerou uma fratura na parte alta do paredão. Tal fratura é bastante visível aos que caminham na trilha, denotando as largas possibilidades de haver, logo abaixo, alguma estrutura espeleogenética. A Grota da

Taipa de Zé Félix é um abrigo calcário que se estende por praticamente cem metros, acompanhando à margem do rio. Em alguns trechos, torna-se mais profundo, mas, em média, é bem raso. Sua importância história e cênica, porém, é inquestionável, destacando-se o local como de relevante valor ambiental.

ESCRITO POR: ROSTAND MEDEIROS
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